segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Poema em linha recta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.(...)
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um actor ridículo. nunca sofreu enxovalho.
Nunca foi senão príncipe...todos eles príncipes...
Na vida...(...)
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?...

Poema de Alvaro de Campos

sábado, 22 de setembro de 2012

CORTEJO DE SONHOS...

Cortejo de sonhos da minha vida errante
A trazer saudade, a trazer nostalgia;
Ladainha dorida dum caminhante
Vivida um dia. atrás doutro dia.

Céus azuis cheiinhos de luz, 
Dias felizes com musica e com sol
Que dá vida à gente e assim nos  conduz,
Levando a vida às costas como o caracol.

Morrer cada dia com o sol poente
E renascer cada manhã docemente
Na ilusão de uma nova alegria;

Sentir minha vida um jardim em flor
E pedir cada noite ao meu Senhor
A piedosa esmola de mais um dia!...

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

QUEM ÉS TU?...

És tu que vens
no silêncio da noite
pedir-me a esmola,
das minhas ilusões
dos meus infortúnios?
És tu que bates
de mansinho
à janela do meu quarto
a ver se te atendo?
E vejo que falas
e vejo que vens,
oferecendo teus frutos... 
A garganta secou, 
as palavras falharam,
para te implorar:
Vem!...Fica!...
Podes entrar: partilha sorrisos comigo,
aquece minha cama de feno!...
Continuaste caminho
teu andar leve
teu rosto de luz,
indiferente,
para brincar ao amor
para cavalgar estrelas
ao faz-de-conta!...
Para lá da vidraça
meus olhos 
ficaram parados,
sem fazer ninho 
no teu olhar!... 
Foste-te embora
da minha janela,
em noite apagada,
em tempo ruim, 
sem me avisares, 
sem eu dar por ti:
mas eu vi-te
logo pela manhã
com o cantar da aurora...
vi tuas pegadas
leves 
suaves
no meu jardim !..
Ainda ouvi tua voz sonora
por entre a espuma 
do meu mar revolto.
Sorri... e corri 
para o abraço infinito
que juntasse céus e mares
numa laçada de amor ...
Mas tu fugiste, 
fugiste para longe...
para muito longe... ...
Mas eu vi-te:
Leve como a brisa da noite, 
agradável como um sonho de amor!...

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

POEMA AGRESTE!

Em poema agreste canto a vida, 
divina aragem que me aquece,
esse lapso de eternidade que me é dado
para cumprir meu fado
que no tempo acontece;
Meu canto junto
à linguagem do rio, da flor, da ave, 
à canção florida, à prece, ao lamento
que são dobras da serenata da vida.
Que grandioso cântico do silêncio!...
Os rios, as plantas, os animais 
soltam hinos à vida,
gritos feitos de silêncios...silêncio 
que é advento da palavra,
palavra essencial, rude e doce, 
amiga e agreste; 
a palavra escandalosa e profética
que em minh`alma se tece...
e em se tecendo acontece!...

ROTURA...

O momento é de rotura, 
nova vida se anuncia:
um fosso profundo se cava
entre o ontem e o amanhã,
e, no entanto,
tudo está próximo, 
tudo está presente!
como se não tivesse havido tempo,
nem séculos, 
nem milénios...
entre o homem primeiro e o último vivente!

AUREA MEDIOCRITAS...

Uma primavera renasce dos escombros dos séculos
com a promessa de alegrias maiúsculas,
com a epopeia dos adventos, 
com a frescura das alvoradas...
No ventre do cosmos se gera
um novo tempo.
As idades  primeiras,
de Virgílio e Platão, 
pairam sobre os montes.
Tudo que é passado nos corre nas veias
e mesmo as ogivas nucleares
prenunciam a glória das fontes... 

CÂNTICOS SEM CANTORES!

Até os cantores de pátrias em perigo
escondem seus cânticos serenos,
vaiados com assobios da multidão anónima,
manifestações elétricas
que geram dias novos... num tempo em que a virtude
já não é a equidistância de extremos...

MUNDO FÉRREO!...

Violada, a lua já não alimenta sonhos de poetas, 
nem mensagens pirosas
destilam da sua luz pálida.
Perdeu o encanto!....
Agora... é algo que o homem toca,
apalpa...profana
com os prolongamentos de seus membros,
satélites e foguetões,
frias mãos de aço,
sem alma nem emoções!...

terça-feira, 21 de agosto de 2012

MINHA MENSAGEM...

Com coragem assumo um povo inquieto,
A palavra titânica lhe aponto:
Quem tem olhos para ler
Que leia
Minha mensagem messiânica...

AMIZADE CONTESTATÁRIA!

A amizade contestatária
se instala no ínfimo da vida
e tudo se renova. Tarefa inadiável
para reposição do paraíso perdido...
A fé romperá com o encanto de novos horizontes,
e dará uma dimensão de magia
aos nossos atos... Nada se perderá:
nem as águas , nem as fontes!

TEMPO-SER...

Chegou o tempo-ser da verdade. 
Uma frescura oceânica refresca
a esperança perdida...
E uma juventude irreverente
toma o mundo nas mãos... e constrói
mundos-sonho por  medida. 

ESTE É O TEMPO, ESTE É O MOMENTO!...

De etapa em etapa, o Homem caminha,
sentinela atento
à fragilidade do barro original;
de queda em queda, 
se levanta 
com o rosto ensanguentado
em direção à fonte virginal; 
a face do futuro modela
com agressiva esperança;
sem modelos pré-fabricados,
o mundo linear do passado
nos bolorentos arquivos do tempo
enterra;
sem angústias metafísicas, 
na oficina do universo
prepara uma nova alvorada, 
etapa irrepetível, 
para uma sonhada humanidade, 
nunca acabada;
que mundo nos trará
esse Homem vestido da verdade?
Nunca a verdade total, 
mas a verdade precária, 
em dinâmico equilíbrio
entre os altos montes 
e os vastos profundos mares...
O tempo de ver e ouvir chegou:
faltam as figueiras
e as primícias das novidades esperadas!... 

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O MEU SONHO!...

Sonho que sou
aquilo que não sou
e vagueio
sem norte, 
noite e dia, 
por caminhos, por abismos sem saída
que levam ao nada...E o nada
é uma ausência sem medida...


Trago dentro de mim um tesouro
que não conheço,
mas que existe!
Sinto-o até,  no meu cansado peito,
e a flor
que no campo morreu triste, 
sabia-o também, 
já lhe rendi preito...

AMOR SEM TEMPO!...


Colhi rosas do campo
Fiz delas 
Teus cabelos
Ninhos de amor
De minhas mãos contentes.

Roubei duas estrelas
Fiz delas
Olhos teus
Duas fontes
Com saudades dos meus. 

Em tuas faces 
Pintei
Uma manhã multicor
Para sonhar contigo
Com magia e amor... 

INTERLÚDIO...

O Homem é uma imagem, 
A imagem que vê num poço,
Quando olha para o fundo!...

segunda-feira, 7 de maio de 2012

SONHO QUE SOU!...

Sonho que sou 
um cavaleiro andante
um Quixote
um Amadis
um Monte Cristo,
Pelejando dia e noite
sem cessar,
por montes por vales
por pradarias, 
Contra os moinhos de vento
desta vida, 
cheia de batalhas sangrentas,
umas ganhas outras perdidas,
Uma fantasia de Arlequim
dum carnaval de Veneza, 
em plena luz do dia!...
Eu , cavaleiro e fidalgo,
Quem diria?

sábado, 14 de abril de 2012

NUNCA É DEMAIS O LUTO...

Nunca é demais o luto
e o pranto,
quando mão humana
impiedosa ágil
reduz o homem
a vime frágil,
quebradiço efémero,
A merecer minha dor
A inspirar o meu canto!...

EI-LOS QUE SURGEM...

Ei-los que surgem
rotos e sujos,
pelos pardieiros,
pelos vãos de escadas,
nos ventres de carros abandonados,
sucata ao desbarato,
palácios de cartão,
como reis efémeros
em manhãs de ilusão;

Heróis vagabundos, 
esfíngicas silhuetas
que vivem nas valetas
sob o olhar profundo
das estrelas que enfeitiçam o mundo
e os sonhos em liquidação;

Nas mãos, o fogo da fantasia
traça roteiros de luz
que anunciam feitiços
deste mundo
e do outro 
que promete manhãs encantadas,  gratuitas,
com fome de beijos sagrados
no segredo de lábios mudos
de cânticos inacabados;

São aos milhares
abandonados pela lotaria da vida
filhos de sistemas empedernidos
e filosofias em saldo,
exigindo
mandamentos novos
aos governadores do mundo!

São milhares de milhões
numa procissão infinda
anjos da noite
implacáveis, caídos,
famintos de justiça
sedentos de vingança,
tentando coreografias novas...
enfim sentir
novos ritos de magia
para quem quer ver
para quem quer ouvir!...

Ei-los aos  milhões,
tecendo em vão
a manta da vida...
de mãos aprisionadas
mas a sua alma não!
Ei-los que são multidão,
lívidos
altivos profetas
sem suspiros gratuitos
nem falsos alertas,
esperando o fim do tempo
sem outro alento
que a fé do peregrino
a alegria do saltimbanco;
mercadoria que são
sem data de validade
nem bilhete de identidade
para a viagem sem retorno
rumo à eternidade...
sem outra sina
outro fado
que ignorar os porquês da vida
o roteiro impreciso
desta farsa divina!...

sexta-feira, 30 de março de 2012

LILIA RUSTICA!

Olhai os lírios do campo
Que não  vestem segundo a moda
Nem se pintam segundo a estação,
E, no entanto, tear algum
Será capaz 
De tecer flores tão originais,
Tão finas,
Amarelas umas,  outras vermelhas
De matizes variados,  cores tão divinas
Que apetece olhá-las 
Vezes sem conta,
Sem nos cansar jamais!... 

sexta-feira, 23 de março de 2012

DE FLOR EM FLOR!...

De flor em flor
o alfabeto da vida
soletro.
Pressinto
a primavera nupcial
na plenitude do fruto
que vai nascer;
Que importa a sedução da paisagem
se o milagre da vida vem embalado
pela  maré das palavras
por dizer?... 

quinta-feira, 22 de março de 2012

MINHA ALMA É UMA CIDADE!...

Minha alma
é uma cidade deserta
às três da madrugada.
Está só,
pior que só
está cansada.
Dentro de si
o outono caiu
tudo lhe levou
ficou despida.
Cidade minha decepada perdida!

As árvores nuas
dormem de pé
nesta cidade ultrajada.
Nem um só rosto
um só que fosse:
bêbado...folgazão
doente...são.
Um rosto de assassino que se tapa,
ou de ladrão que se escapa 
do polícia que ronda 
a casa da prostituta,
ganhando o pão ultrajado
sem luta...seu triste fado!
Um rosto só, mas de luta...

Nem um movimento
de calma ...ou de pressa;
Nem um gargalhar
um murmúrio
uma querela;
Nem a promessa 
de um malmequer
ou outra flor qualquer;
Nem a esfinge
de um par
fazendo juras de amor
como se faz no altar!

Para minh´alma 
ou tudo ou nada;
Dentro de mim
um céu escuro;
Lá fora
uma noite estrelada!...
Minha cidade 
é 
um cântico mudo 
no alto da madrugada!,,,


  

EU VI O AMOR...

Eu vi o amor cantando
Na berma do caminho
Coberto de flores
E a vender carinho;

Eu vi o amor sonhando
Em noites de luar
Pertinho das estrelas
Cansado de voar;

Eu vi o amor chorando
Por longes sem fim
Pedindo minha mão
Chamando por mim!... 

sábado, 17 de março de 2012

AS PALAVRAS NÃO DÃO DE COMER!

Como a palavra inefável, 
Agressivo fermento
Para o incómodo da vida;
Assim as imagens malditas, 
Os estômagos famintos,
Os dentes raivosos,
Os insultos interditos
Serão a esperança de que o sonho
Não será em vão;
Um cântico novo surgirá,
Desenhando uma nova ilusão!... 

SIMPLES ANDARILHO!...

Sem estrelas vivo, eu vagabundo,
Só,
entre milhões de milhões, 
constantemente oscilando,
entre o alto 
e os pântanos lá do fundo:
A grandeza... e a nulidade,
O mundo escuro...e a claridade,
de mãos dadas,
neste vale de lamentações!...

Subo e caio com a mesma facilidade:
de manhã cavalgo uma nuvem
mergulho num charco, lá pela tarde.
Minha inutilidade me esmaga,
escravo inútil me sinto,
Se a palavra disponível não agrada
ao projeto a realizar, 
sinto o  descalabro dentro de mim,
como sinal do fim... ou do princípio
do horizonte mágico da vida?!...
Se outros olhos não há,
além dos que me mostram as manhãs, 
então nem escravo sou,
Nada valho:  nem a beleza 
duma gota de orvalho, nem a pena leve 
da ave azul
que a aragem da aurora levou!...
´

sexta-feira, 16 de março de 2012

AUTOSSUFICIÊNCIA!...

Autossuficiente eu?... eu fabricando
meus fatos, meus sapatos...
E os couros?... e  as agulhas?... e as linhas?...
Eu o centro...e a paisagem dos outros 
obscurecendo meus louros.
Eu... o melhor, o super, o sobre,
o acima de tudo e todos;
Cá em baixo,
com os pés colados à terra,
vegetando... rastejando...
a morte e a vida desfiando
a teia do viver,
uma corda tensa em situação limite,
testemunha de meu frágil ser;
Leproso que sou,
espero  um Deus,
à berma do caminho.
Inquilino passageiro,
num mundo cheio de megatões,
neutrões e hidrogénio em desalinho, 
empacotados em cartuchos de aço
que vigiam lá nas alturas 
tudo o que penso.... tudo o que faço!...

quinta-feira, 15 de março de 2012

NAS TUAS, NOSSAS MÃOS...

Nas mãos pequeninas das crianças
está o fazer-se;
Nas minhas, tuas mãos 
o conservar-se;
E nas mãos do Zé Taberneiro
que anda bêbedo todo o dia
e não tem outra filosofia
que não seja a do dinheiro, 
estão olhos cheios de cifrões...de vinganças!
Em qual destas mãos
estará um novo mundo?
Se não bastarem as das crianças,
teremos que esperar mãos outras,
outros mundos de novas esperanças!... 

SER OU TER!...

A vida é risco
Ter ou ser uma escolha;
Técnica e matéria
Geram monstros de cimento,
Retilíneas belezas,
Criações sem criador;
Deuses do nosso tempo,
Sujeitos à erosão dos cataclismos 
De dentro e de fora:
Os novos monstros do terror!... 

À PROCURA DO HOMEM!...

Pego num lápis e papel
e tento, num ato demiúrgíco,
construir um homem deste mundo,
um homem que não sejas tu nem eu, 
um homem tão fora do lugar
e tempo...e tão sem cor
que possa ter alma de negro, 
amarelo...vermelho ,
ou de simples europeu!...

Esse homem singelo busco,
de mãos duras... limpas...
que não seja de gente inútil...
de prostituta...ou de senhora fútil...
de gatuno...ou de fariseu...
Um homem sem bandeiras
sem horizontes perdidos...
que não jejue
nem pague dízimos;
Toda a terra sendo sua,
nada tem de seu!... 

sábado, 10 de março de 2012

CAI A NOITE NA MINHA CIDADE!...

Cai a noite na minha cidade:
o escuro e o nada;
E as luzes que pintam
os seus contornos diluídos!
E os sons
que cortam os ouvidos
que atordoam
que enervam
são a minha cidade;
-E a mocidade? A mocidade
é a minha cidade...
são as luzes... são os sons...
e a juventude sofrida
desta cidade iluminada,
escura
perdida... e bela!
Oh!-Como é terna a minha cidade!
Silêncio!... Como é duro o silêncio!
Silêncio estúpido do manicómio
é silêncio forçado:
Tirem-lhe os mandões,
deixem os tolos rir
e tudo fica mudado!
Abantesmas que somos:
os tolos são finos.
Porque nos rimos?
Tolos somos nós todos
neste manicómio dourado;
Os malucos são lógicos:
não pertencem ao manicómio estouvado
dos espertos
barulhentos
dessoutro manicómio trocado!...

quinta-feira, 8 de março de 2012

SE...

Se eu tivesse
a arte dos deuses
e o mágico poder
das fadas e adivinhos
criaria um ser maravilhoso
tão belo e bom,
não seria tão caro
o melhor dos vinhos!...

Caminharia 
pelo pó dos caminhos
pelo azul-verde dos espaços...
Sairia 
cavalgando o sonho,
tornar-me-ia barro de seus pés
e, à noite,
iria ouvir 
as sinfonias da vida e do amor,
pelas ruelas, pelos cafés!...

Se ainda fosse possível
teceria uma coroa de manhãs
e por-lha-ia na cabeça,
decretando-a rainha das coisas,
beleza das belezas...
E a vida voltaria ao princípio:
ERA UMA VEZ...
seria mais um dia
...dos contos de anões e de princesas!... 

quarta-feira, 7 de março de 2012

SOUBERA EU CANTAR!...

Soubera eu cantar 
tão docemente
o sonho realizável 
e já desfeito
de tanto ideal 
que ficou pelo caminho!
amordaçado
por mãos sujas,
despidas de carinho...
E outra gesta 
outro canto nasceria
mais duradouro
que o mais puro linho!...

SILHUETA TRISTE!...

Indiferente ao bulício circundante
ela caminha só;
Miséria e grandeza
carrega aos ombros simples
descarnados
altivos!...

Seu olhar límpido desafia
a grandeza da manhã
que nasce
                 fresca e radiosa;
O cansaço da vida não assusta
seu passo orgulhoso
regular seguro
de quem nada deve à vida!

E, no entanto, a angústia,
essa máscara dolorosa
cava sulcos de revolta
num rosto que já foi feliz...
Que outra manhã terá acontecido? 
em antigos sonhos
que não diz!...

NO CAFÉ...

No bulício esparso do café
entre mesas vazando e desvazando,
a gente fervilhando
se agita
num círculo vazio sem sentido;
No meio da balbúrdia anónima
e ruidosa
um par de jovens namorados
faz juras de amor
de bronze e prata fina
entre risos e impropérios...

QUISERA SER O SOL...

Quisera ser eu o sol da vida
No inverno do meu descontentamento
Saberia distribuí-lo
Às mãos-cheias
Pelos casebres
Pelas vielas
Pelos antros,
Onde nunca acontece primavera...

NOS RAMOS DA AVENTURA!...

Nos ramos
das árvores da vida
saltita o passarito da aventura.
A cada desilusão...novo salto.
Só TU,
Rei das marés e dos astros,
me trazes sempre preso
pela cintura!...

SUPREMA ANGÚSTIA!...

Imbecil de mim
impotente que sou!...
Não poder fazer voltar atrás
a lágrima
que aquela criança chorou!...

terça-feira, 6 de março de 2012

TEUS CABELOS LOUROS!

Teus cabelos louros
dedilhados pelo vento;
Para trás e para a frente,
sem descanso;
Parecem lenços brancos
num adeus;
Cobrem  teu rosto lindo
com  um fino manto...
E esse teu sorriso,
cheio de manhãs,
fresco como uma carícia,
Assim a tua imagem,
límpida, sã!..

Ajuda-me a crer nas estrelas
que não vejo;
Diz-me 
não ser a vida uma esperança vã!...

NAMBUANGONGO EM GUERRA!...

É noite em Nambuangongo:
noite com chuva,
uma chuva de cacimbo,
trovões e nuvens
que riscam o céu
povoado de mil fantasmas,
escuros,
imundos,
crus...

Estou  cansado:
A guerra cansa a gente
por dentro e por fora;
Sozinho, 
no meu quarto sem luz,
olho o céu em guerra...
com os pés
colados à terra,
sentindo meus braços vazios
caídos
nus...

A VIDA É!...

Dizes-me que a vida é um vale
de lágrimas;
Dir-te-ei que a vida é dor,
é  luto,
sempre que a mão assassina
corta a seiva divina
que jorra nos ramos:
Em cada flor...cada fruto!...

BRINCAS E SORRIS BRINCANDO...

Brincas e sorris brincando
E brilhas em cada gesto,
Como luz do meu fado:
Uma estrela a meu lado, 
Um pedaço dos céus...
Não sei se guiando teus passos,
Se tu, guiando os meus!...

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

FICA PROIBIDO...

Fica proibido codificar homens...
Sua condição de vegetar nego...
A mediocridade da vida esconjuro...
Mendigos que somos de infinito,
eu, finito e cego, Te procuro;
De pé,  procuro o ritmo do tempo, 
soltando meu grito, as barreiras destruo...
Ou será que o maior dos ricos
não defeca, chora e morre
como o mais pobre dos aflitos?!...
De uma vez por todas fica escrito
que o preço da vida é o AMOR GRATUITO,
mandamento novo em letra de granito!...

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

SINGELO MOMENTO!...

O sol doura teus cabelos,
Duas estrelas moram no teu olhar;
A fonte que canta em teu peito
Traz poemas de terra e de mar!...
Eu, solitário e vazio, 
Não fui  capaz de entender
Toda a música que deixas no ar!...

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

TEMPO DE GIGANTES...

O tempo dos gigantes passou...
Passaram as civilizações douradas!...
Hoje, só há anões, 
às cavalitas de anões!...
Em espetáculos de feira
com palhaços aos trambolhões!...

domingo, 26 de fevereiro de 2012

MAR REVOLTO!...

Ainda há pouco eras calmo,
imensidão em paz,
um azul lago...
E aquele disforme penedo,
cravado no teu lado,
há eternidades,
parecia meter-te medo!
Tão de leve
o acariciavas, o cingias...
E o teu cantar
era um diálogo de noivado
entre a rocha e o mar...

E agora estás bravo,
mar sem fim!...
Vieste lembrar-me a paz
que sempre trago...
Ou és tu
que  não me queres assim!?
Que se meteu em tuas entranhas?
Que espírito te animou?
para que estejas em convulsões,
aos urros,
batendo no penedo,
como a dar-lhe murros?...

sábado, 25 de fevereiro de 2012

FRONTEIRAS!...

O rio que passa e divide
a planície,
O marco de pedra ou aço
colocado no deserto,
O homem de farda que mata
são os limites dum espaço
em que o passo
não pode ir mais lá
mais cá do limite
que permite
dar mais passos....
São as fronteiras
divisões banais
que esquartejam o mundo...

Mas há fronteiras mais primorosas,
com mais técnica,
mais progresso,
mais finas. Tudo civilizado:
canteiros com flores... e minas...
roseirais em flor... e arame farpado!
Em fiadas direitinhas...paralelas
mas tudo eletrificado!...

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

UM FADO LINDO!...

Abro os olhos... e apareces tu,
Calma, 
Sonhadora, 
Carinhosa...,
Sinto a minh'alma
A rir
E a cantar...
Ai! os teus olhos
O teu quente olhar,
Tão raro
Tão puro
Tão azul!
Não é tão azul
O azul do mar!...                         

SIMPLES DESEJO...

Poder cantar queria
Pulmões plenos
Cada momento;
Meter
Cá dentro a alegria;
Depois marchar
Sereno,
Rosto levantado ao vento;
Assobiar
Melodias sem igual,
Árias do meu contentamento;
Todo o espaço
Cingir
Num abraço...
E derramar estrelas
Dos meus olhos
Pela imensidão do espaço...

MINHA BOLA DE SABÃO!...

Deixem-me construir
Castelos de neve, 
Bolas de sabão!
Deixem-me construir
Paraísos de sonho,
Mas o sonho não leve
Meus castelos 
                   sem pedra
                   sem betão!....
Deixem-me construir
Um mundo, 
Onde eu viva 
Só,
Com minha ilusão;
Deixem-me sonhar
Um mundo diferente, 
                  sem guerra
                  sem perdão;
Deixem-me construir
A minha bola de sabão!...

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A MINHA JANELA...

Na janela do meu quarto,
o quadro vivo
colorido
da manhã... surgiu...
Cheio de sol
e luz tanta!
Que os próprios objetos radiantes
refletem em mim a bonança
do dia novo
da renovada esperança!... 

domingo, 19 de fevereiro de 2012

DE VERMELHO...

De vermelho
Cor de sangue
Minhas mãos 
Tingi;
As vestes 
Rasguei
Por caminhos vãos;

Forças que tinha 
Todas consumi;
Batalhas enfrentei:
Tantas perdi
Muitas ganhei;
E agora
Que nada sou
Nada valho
Tenho de regressar sem Ti

Quem és Tu...
Quem procuro
Sem Te encontrar?
Quem és:
Sol da minha órbita,
Minha estrela polar?...
Quem hoje me guia, 
Quem rasga meu futuro, 
Quem me leva a beber
Em fonte pura?...
Quem?...Onde é?...

Se preciso for guerra,
Soldado sou;
Se crer, 
Eu tenho fé.
No meu caminho
Estou
À TUA espera... 

ACIDENTAL BELEZA...

Pedaço de terra, céu e mar,
Flor agreste, vento
E fresca madrugada 
Num corpo de mulher, tecendo
Mil sonhos de beleza
E um cântico  de alvorada! 

TUDO OU NADA!...

Porquê orgulho e preconceito,
Pergunta a simples violeta?...
Uma flor é sempre flor,
quer na mesa dum paláçio,
ou na janela dum lenhador...

Mudar a importância da flor
é matá-la!

Na casa humilde, 
ou no castelo real,
usa o mesmo aroma,
veste a mesma cor...

Vive simples e delicada
E ensina idêntica metafísica
à senhora e à criada:
Uma simples flor
pode ser tudo ou nada!...

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O AR DA MANHÃ...

O ar da manhã
trouxe um rosto fresco...
Bebi-te o olhar,
minha fonte agreste!...
Luminosa passaste
e minha sede passou!...

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

FONTE SEM NOME!...

Fonte que murmuras segredos
Quem me dera saber-te escutar...
Ser irmão das sombras , dos medos,
Ter cavernas nos fundos do mar...

Gemer em doces murmúrios
Cantar canções de embalar;
Entrar nos velhos tugúrios, 
Ser espelho da luz do luar!...

Fazer sentir quem não sente,
Fazer sorrir docemente
Aquele que sabe chorar...

Teres boca para dizer
Que minh'alma é um querer
Ser fonte para te cantar!...

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

INSTANTE!...

Quando o mar adormece,
Quando a gaivota plana,
Parece que o sonho acontece:
Parece que a vida é uma prece, 
Parece que a vida nos chama!....

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A MINHA ESTRELA!...

Nos meus muitos caminhos de viandante
Apareceu uma luz que me cegou.
Ficou presa a mim, não mais deixou
O barco da minha vida, o meu destino errante!

Mistério de força...guia e bom mirante
Dos meus dias, das minhas lutas;
Tantas tristezas goradas! tantas lágrimas enxutas
Por ti, doce estrela e minha amante!...

Procelas sofridas, noites sem luz, rotas as velas,
Por mares e terras, por sóis e estrelas...
Sempre lá tu. Camarada. Serva.

Obrigado estrela!?...não me cegues os olhos...
Dá-me muita luz... e paz aos molhos
E a minha rota na vida me conserva!...

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O MEU MUNDO!...

Há dentro do meu peito um mundo cheio 
De fantasmas e de anjos, de ídolos caídos, 
 De deuses sem reino, de santos e bandidos, 
Um mundo em que creio e outro em que não creio!

Há o mundo dos meus sentidos, chagas em ferida,
Nascentes límpidas, reinos de flores!
Preces...Valha-nos a Senhora das Dores!...
Pragas...Para quê? esta maldita vida...

Há ainda o mundo da minha alma! e a calma
Das melodias que meu espírito salma,
Nas tardes de rouxinol, nas manhãs da cotovia.

Há lagos puros, lagoas sem lodo.
E a dar vida e este mundo todo
Há a estrela da manhã e o sol dum belo dia!...