sexta-feira, 30 de março de 2012

LILIA RUSTICA!

Olhai os lírios do campo
Que não  vestem segundo a moda
Nem se pintam segundo a estação,
E, no entanto, tear algum
Será capaz 
De tecer flores tão originais,
Tão finas,
Amarelas umas,  outras vermelhas
De matizes variados,  cores tão divinas
Que apetece olhá-las 
Vezes sem conta,
Sem nos cansar jamais!... 

sexta-feira, 23 de março de 2012

DE FLOR EM FLOR!...

De flor em flor
o alfabeto da vida
soletro.
Pressinto
a primavera nupcial
na plenitude do fruto
que vai nascer;
Que importa a sedução da paisagem
se o milagre da vida vem embalado
pela  maré das palavras
por dizer?... 

quinta-feira, 22 de março de 2012

MINHA ALMA É UMA CIDADE!...

Minha alma
é uma cidade deserta
às três da madrugada.
Está só,
pior que só
está cansada.
Dentro de si
o outono caiu
tudo lhe levou
ficou despida.
Cidade minha decepada perdida!

As árvores nuas
dormem de pé
nesta cidade ultrajada.
Nem um só rosto
um só que fosse:
bêbado...folgazão
doente...são.
Um rosto de assassino que se tapa,
ou de ladrão que se escapa 
do polícia que ronda 
a casa da prostituta,
ganhando o pão ultrajado
sem luta...seu triste fado!
Um rosto só, mas de luta...

Nem um movimento
de calma ...ou de pressa;
Nem um gargalhar
um murmúrio
uma querela;
Nem a promessa 
de um malmequer
ou outra flor qualquer;
Nem a esfinge
de um par
fazendo juras de amor
como se faz no altar!

Para minh´alma 
ou tudo ou nada;
Dentro de mim
um céu escuro;
Lá fora
uma noite estrelada!...
Minha cidade 
é 
um cântico mudo 
no alto da madrugada!,,,


  

EU VI O AMOR...

Eu vi o amor cantando
Na berma do caminho
Coberto de flores
E a vender carinho;

Eu vi o amor sonhando
Em noites de luar
Pertinho das estrelas
Cansado de voar;

Eu vi o amor chorando
Por longes sem fim
Pedindo minha mão
Chamando por mim!... 

sábado, 17 de março de 2012

AS PALAVRAS NÃO DÃO DE COMER!

Como a palavra inefável, 
Agressivo fermento
Para o incómodo da vida;
Assim as imagens malditas, 
Os estômagos famintos,
Os dentes raivosos,
Os insultos interditos
Serão a esperança de que o sonho
Não será em vão;
Um cântico novo surgirá,
Desenhando uma nova ilusão!... 

SIMPLES ANDARILHO!...

Sem estrelas vivo, eu vagabundo,
Só,
entre milhões de milhões, 
constantemente oscilando,
entre o alto 
e os pântanos lá do fundo:
A grandeza... e a nulidade,
O mundo escuro...e a claridade,
de mãos dadas,
neste vale de lamentações!...

Subo e caio com a mesma facilidade:
de manhã cavalgo uma nuvem
mergulho num charco, lá pela tarde.
Minha inutilidade me esmaga,
escravo inútil me sinto,
Se a palavra disponível não agrada
ao projeto a realizar, 
sinto o  descalabro dentro de mim,
como sinal do fim... ou do princípio
do horizonte mágico da vida?!...
Se outros olhos não há,
além dos que me mostram as manhãs, 
então nem escravo sou,
Nada valho:  nem a beleza 
duma gota de orvalho, nem a pena leve 
da ave azul
que a aragem da aurora levou!...
´

sexta-feira, 16 de março de 2012

AUTOSSUFICIÊNCIA!...

Autossuficiente eu?... eu fabricando
meus fatos, meus sapatos...
E os couros?... e  as agulhas?... e as linhas?...
Eu o centro...e a paisagem dos outros 
obscurecendo meus louros.
Eu... o melhor, o super, o sobre,
o acima de tudo e todos;
Cá em baixo,
com os pés colados à terra,
vegetando... rastejando...
a morte e a vida desfiando
a teia do viver,
uma corda tensa em situação limite,
testemunha de meu frágil ser;
Leproso que sou,
espero  um Deus,
à berma do caminho.
Inquilino passageiro,
num mundo cheio de megatões,
neutrões e hidrogénio em desalinho, 
empacotados em cartuchos de aço
que vigiam lá nas alturas 
tudo o que penso.... tudo o que faço!...

quinta-feira, 15 de março de 2012

NAS TUAS, NOSSAS MÃOS...

Nas mãos pequeninas das crianças
está o fazer-se;
Nas minhas, tuas mãos 
o conservar-se;
E nas mãos do Zé Taberneiro
que anda bêbedo todo o dia
e não tem outra filosofia
que não seja a do dinheiro, 
estão olhos cheios de cifrões...de vinganças!
Em qual destas mãos
estará um novo mundo?
Se não bastarem as das crianças,
teremos que esperar mãos outras,
outros mundos de novas esperanças!... 

SER OU TER!...

A vida é risco
Ter ou ser uma escolha;
Técnica e matéria
Geram monstros de cimento,
Retilíneas belezas,
Criações sem criador;
Deuses do nosso tempo,
Sujeitos à erosão dos cataclismos 
De dentro e de fora:
Os novos monstros do terror!... 

À PROCURA DO HOMEM!...

Pego num lápis e papel
e tento, num ato demiúrgíco,
construir um homem deste mundo,
um homem que não sejas tu nem eu, 
um homem tão fora do lugar
e tempo...e tão sem cor
que possa ter alma de negro, 
amarelo...vermelho ,
ou de simples europeu!...

Esse homem singelo busco,
de mãos duras... limpas...
que não seja de gente inútil...
de prostituta...ou de senhora fútil...
de gatuno...ou de fariseu...
Um homem sem bandeiras
sem horizontes perdidos...
que não jejue
nem pague dízimos;
Toda a terra sendo sua,
nada tem de seu!... 

sábado, 10 de março de 2012

CAI A NOITE NA MINHA CIDADE!...

Cai a noite na minha cidade:
o escuro e o nada;
E as luzes que pintam
os seus contornos diluídos!
E os sons
que cortam os ouvidos
que atordoam
que enervam
são a minha cidade;
-E a mocidade? A mocidade
é a minha cidade...
são as luzes... são os sons...
e a juventude sofrida
desta cidade iluminada,
escura
perdida... e bela!
Oh!-Como é terna a minha cidade!
Silêncio!... Como é duro o silêncio!
Silêncio estúpido do manicómio
é silêncio forçado:
Tirem-lhe os mandões,
deixem os tolos rir
e tudo fica mudado!
Abantesmas que somos:
os tolos são finos.
Porque nos rimos?
Tolos somos nós todos
neste manicómio dourado;
Os malucos são lógicos:
não pertencem ao manicómio estouvado
dos espertos
barulhentos
dessoutro manicómio trocado!...

quinta-feira, 8 de março de 2012

SE...

Se eu tivesse
a arte dos deuses
e o mágico poder
das fadas e adivinhos
criaria um ser maravilhoso
tão belo e bom,
não seria tão caro
o melhor dos vinhos!...

Caminharia 
pelo pó dos caminhos
pelo azul-verde dos espaços...
Sairia 
cavalgando o sonho,
tornar-me-ia barro de seus pés
e, à noite,
iria ouvir 
as sinfonias da vida e do amor,
pelas ruelas, pelos cafés!...

Se ainda fosse possível
teceria uma coroa de manhãs
e por-lha-ia na cabeça,
decretando-a rainha das coisas,
beleza das belezas...
E a vida voltaria ao princípio:
ERA UMA VEZ...
seria mais um dia
...dos contos de anões e de princesas!... 

quarta-feira, 7 de março de 2012

SOUBERA EU CANTAR!...

Soubera eu cantar 
tão docemente
o sonho realizável 
e já desfeito
de tanto ideal 
que ficou pelo caminho!
amordaçado
por mãos sujas,
despidas de carinho...
E outra gesta 
outro canto nasceria
mais duradouro
que o mais puro linho!...

SILHUETA TRISTE!...

Indiferente ao bulício circundante
ela caminha só;
Miséria e grandeza
carrega aos ombros simples
descarnados
altivos!...

Seu olhar límpido desafia
a grandeza da manhã
que nasce
                 fresca e radiosa;
O cansaço da vida não assusta
seu passo orgulhoso
regular seguro
de quem nada deve à vida!

E, no entanto, a angústia,
essa máscara dolorosa
cava sulcos de revolta
num rosto que já foi feliz...
Que outra manhã terá acontecido? 
em antigos sonhos
que não diz!...

NO CAFÉ...

No bulício esparso do café
entre mesas vazando e desvazando,
a gente fervilhando
se agita
num círculo vazio sem sentido;
No meio da balbúrdia anónima
e ruidosa
um par de jovens namorados
faz juras de amor
de bronze e prata fina
entre risos e impropérios...

QUISERA SER O SOL...

Quisera ser eu o sol da vida
No inverno do meu descontentamento
Saberia distribuí-lo
Às mãos-cheias
Pelos casebres
Pelas vielas
Pelos antros,
Onde nunca acontece primavera...

NOS RAMOS DA AVENTURA!...

Nos ramos
das árvores da vida
saltita o passarito da aventura.
A cada desilusão...novo salto.
Só TU,
Rei das marés e dos astros,
me trazes sempre preso
pela cintura!...

SUPREMA ANGÚSTIA!...

Imbecil de mim
impotente que sou!...
Não poder fazer voltar atrás
a lágrima
que aquela criança chorou!...

terça-feira, 6 de março de 2012

TEUS CABELOS LOUROS!

Teus cabelos louros
dedilhados pelo vento;
Para trás e para a frente,
sem descanso;
Parecem lenços brancos
num adeus;
Cobrem  teu rosto lindo
com  um fino manto...
E esse teu sorriso,
cheio de manhãs,
fresco como uma carícia,
Assim a tua imagem,
límpida, sã!..

Ajuda-me a crer nas estrelas
que não vejo;
Diz-me 
não ser a vida uma esperança vã!...

NAMBUANGONGO EM GUERRA!...

É noite em Nambuangongo:
noite com chuva,
uma chuva de cacimbo,
trovões e nuvens
que riscam o céu
povoado de mil fantasmas,
escuros,
imundos,
crus...

Estou  cansado:
A guerra cansa a gente
por dentro e por fora;
Sozinho, 
no meu quarto sem luz,
olho o céu em guerra...
com os pés
colados à terra,
sentindo meus braços vazios
caídos
nus...

A VIDA É!...

Dizes-me que a vida é um vale
de lágrimas;
Dir-te-ei que a vida é dor,
é  luto,
sempre que a mão assassina
corta a seiva divina
que jorra nos ramos:
Em cada flor...cada fruto!...

BRINCAS E SORRIS BRINCANDO...

Brincas e sorris brincando
E brilhas em cada gesto,
Como luz do meu fado:
Uma estrela a meu lado, 
Um pedaço dos céus...
Não sei se guiando teus passos,
Se tu, guiando os meus!...